domingo, 27 de maio de 2018

MEDITAÇÃO DIÁRIA Dom, 27 – Santíssima Trindade – Ano B

Deut 4, 32-34.39-40 / Slm 32 (33), 4-6.9.18-20.22 / Rom 8, 14-17 / Mt 28, 16-20

Hoje celebramos o mistério da Santíssima Trindade. Dizer que é um mistério não significa que se trata de uma coisa obscura, incompreensível ou, ainda pior, contrária à razão. Dizer que é um mistério significa que se trata de uma riqueza sem fim e que nunca poderemos abarcar plenamente. É um poço do qual poderemos sempre tirar mais água, que esta nunca se esgotará. 

Nós professamos a fé num Deus Uno e Trino. Durante a história da Igreja, tentamos explicar este mistério de diversas formas. S. Patrício, na Irlanda, numa homilia deu o exemplo do trevo: é uma só planta, mas tem três folhas. Deus é um só Deus, mas tem três pessoas. S. Basílio, um santo do século IV, deu a imagem da comunidade cristã primitiva de Jerusalém, tal com vem descrita no livro dos Atos dos Apóstolos, para exemplificar este mistério: eram muitos os cristãos membros da comunidade, mas todos viviam em perfeita unidade, de tal modo que a comunidade tinha «um só coração e uma só alma» (At 4, 32). Uma só comunidade e muitos membros. O Concílio Vaticano II, já no século XX, voltará a dar este mesmo exemplo, afirmando que a Igreja (unida) é imagem da Santíssima Trindade.  

Santo Agostinho parte da certeza de que cada um de nós é imagem da Santíssima Trindade e explica que cada um de nós, sendo uma única pessoa, tem três capacidades principais: a memória, a inteligência e a vontade. Ora, diz-nos Santo Agostinho que a memória é a imagem de Deus Pai, a inteligência é a imagem de Deus Filho e, por sua vez, a vontade corresponde ao Espírito Santo. Esta pode parecer uma reflexão demasiado teórica, mas o seu significado é claro: em Deus tudo aquilo que o Filho pensa é aquilo que o Pai pensa; aquilo que o Espírito quer é aquilo que o Pai quer. Estão plenamente unidos. Em nós, nem sempre a memória, a inteligência e a vontade estão plenamente unidas: muitas vezes, na vida, somos desafiados a construir uma memória que seja cada vez mais coerente com a Boa Nova para que, tendo a mentalidade de Cristo, a nossa inteligência e a nossa vontade a possam seguir. Quantas vezes decidimos com a nossa vontade, isto é, livremente, fazer alguma coisa e acabamos por fazer aquilo que gostaríamos de não ter feito? Isto significa que, em nós, memória, inteligência e vontade ainda não estão plenamente unidas. Ainda há divisão dentro de nós. 

A Santíssima Trindade é um mistério de união, mas da qual podemos encontrar reflexos dentro de nós. Não é meramente abstrata: este ideal de união pode ser transposto para as nossas vidas e para as nossas comunidades. O Evangelho deste domingo envia-nos a fazer discípulos. Isto não significa que temos de ir em primeiro lugar anunciar alguma teoria ou alguma moral especial, mas somos enviados, como irmãos e irmãs, a transmitir aos outros o poder que Jesus nos comunicou: o poder de escutar a Palavra e fazê-la frutificar na nossa vida. E o fruto principal da vida em Cristo, da vida no Espírito, da vida mergulhada no Pai é a união. Quanto mais formos de Deus, mais seremos um, como a Trindade é una. 

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