domingo, 23 de setembro de 2018

MEDITAÇÃO DIÁRIA Dom, 23 – Domingo XXV do Tempo Comum – Ano B

«O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens que O hão de matar». Este é o segundo anúncio da paixão de Jesus e, embora Ele seja muito claro, os discípulos não compreendem o que Ele diz e, ainda pior, ficam com medo de Lhe fazerem perguntas. Porquê este medo? 

Curiosamente, o Evangelho diz que chegaram «a casa». Estão em Cafarnaum e esta será possivelmente a casa de Pedro, a mesma casa onde curou a sogra de Pedro da sua febre, libertando-a para servir. Agora são os discípulos que têm uma «febre», certamente não é uma febre no corpo, mas uma «febre» que os impede de ver a realidade como ela é verdadeiramente. Embora não tivessem compreendido o anúncio da paixão, estavam com medo de fazer perguntas. Há alguma coisa que os impede de falar. É curioso que na passagem anterior temos a cura de um «espírito surdo-mudo» que impedia um homem de falar; agora temos os discípulos com medo de falar. 

Jesus pergunta-lhes: Que discutíeis no caminho? É desconcertante: Jesus estava a anunciar a sua paixão e eles falavam acerca de quem de entre eles seria o maior. Discutiam quem era o mais importante, o chefe! Jesus fala de Amor. Esta é sempre a sua palavra. Amor e humildade. Os discípulos, procurando perceber quem é o maior, falam de egoísmo, de protagonismo. Quem anda à procura do próprio «eu», quem anda à procura de satisfazer as suas vontades todas, quem se preocupa só com as suas necessidades acaba por se perder, por perder os outros e Deus. Por estranho que possa parecer, quem quer ser grande é porque se acha pequeno, talvez insignificante e sem valor. Quem não se se sente amado, não pode aceitar-se a si mesmo nem aos outros e, por isso, procura afirmar-se em relação aos outros. 

Assim percebemos por que os discípulos não podem compreender aquilo que Jesus está a dizer. Não podem compreender: estão noutra! Jesus está a falar de dar a vida e eles a discutir quem é o maior. Há tantas coisas na vida que não compreendemos simplesmente porque estamos noutra. Por isso Jesus, vendo que eles não estão a perceber, senta-Se, assumindo a posição do mestre que fala, toma uma criança nos braços e mostra-lhes o que significa ser o maior à luz do amor: «Se alguém quiser ser o primeiro, há de ser o último de todos e o servo de todos». Esta é a liberdade do Amor, a liberdade de quem se faz último, a liberdade de quem se está a tornar semelhante a Deus. 

A criança é o Homem não realizado, o último. É, sobretudo, o não autossuficiente, que não se basta a si mesmo, que tem necessidade dos outros, que recebe tudo e tudo acolhe gratuitamente porque, mesmo que quisesse pagar, não tem nada com que pagar. Representa a nossa condição de criaturas. Jesus pega na criança e diz-nos que é isto que precisamos de ser: porque frágeis, abertos ao amor de Deus. Conscientes de que não nos realizamos sozinhos, mas só uns com os outros, em Deus. Querer ser grande sozinho, pelas próprias forças, é impedimento para receber o amor, gratuitamente entregue, de Deus. 

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