terça-feira, 5 de junho de 2012

Dialogo

Da utilidade do inútil
Temos que trabalhar para sermos úteis ao país, ouvimos todos os dias. Temos que trabalhar muito, repetem-nos à exaustão. O que estávamos, então, ali a fazer naquela saudação primaveril convertida em música, usando um tempo útil (tempo é dinheiro…) para ouvir uma orquestra ao ar livre, coisa inútil? (…) Não deveríamos perder salários nem nenhum feriado – nenhum mesmo, civil ou religioso. Para além das razões económicas que outros já sublinharam (trabalhar mais quatro ou cinco dias não resolve o problema do país; a questão não é que os portugueses trabalham pouco…), há outra razão mais funda: a celebração, a festa, introduz um tempo de diferenciação fundamental para a vivência dos afectos, do lúdico, da contemplação. E é isso que nos torna mais pessoas. O discurso da Igreja repete-o incessantemente, teria sido bom tê-lo traduzido numa posição concreta.

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