Da utilidade do
inútil
Temos que trabalhar para sermos úteis ao país, ouvimos todos os
dias. Temos que trabalhar muito, repetem-nos à exaustão. O que estávamos, então,
ali a fazer naquela saudação primaveril convertida em música, usando um tempo
útil (tempo é dinheiro…) para ouvir uma orquestra ao ar livre, coisa inútil? (…)
Não deveríamos perder salários nem nenhum feriado – nenhum mesmo, civil ou
religioso. Para além das razões económicas que outros já sublinharam (trabalhar
mais quatro ou cinco dias não resolve o problema do país; a questão não é que os
portugueses trabalham pouco…), há outra razão mais funda: a celebração, a festa,
introduz um tempo de diferenciação fundamental para a vivência dos afectos, do
lúdico, da contemplação. E é isso que nos torna mais pessoas. O discurso da
Igreja repete-o incessantemente, teria sido bom tê-lo traduzido numa posição
concreta.
Sem comentários:
Enviar um comentário