Ecl 1, 2; 2, 21-23 / Slm 89 (90), 3-6.12-14.17 / Cl 3, 1-5.9-11 / Lc 12, 13-21
Um sábio que vivia em Jerusalém, cerca do ano 220 antes de Cristo, Coélet, nome que significa aquele que reúne a assembleia, interpela os seus contemporâneos sobre o sentido da vida e o uso dos bens. As suas observações foram feitas num tempo caracterizado pelo florescimento da riqueza e do bem-estar. O fascínio do conforto material obscurecia a busca dos verdadeiros valores. É também uma tentação muito atual. Por isso, convém repetir hoje a sua forte chamada de atenção: «vaidade das vaidades: tudo é vaidade». Esta expressão aparece 25 vezes no livro do Eclesiastes, como um refrão de alerta vermelho. É uma ilusão «correr atrás do vento», viver de enganos que são como fachadas brilhantes que escondem ruínas. A resposta às perguntas do sábio Coélet encontramo-las no Evangelho de Jesus, nosso «caminho, verdade e vida».
S. Paulo, escrevendo aos cristãos de Colossos, recorda-lhes a novidade de ser cristão. Os vícios pertencem ao «homem velho», que não tem o horizonte da eternidade e só pensa nos prazeres imediatos, que contrariam o amor: «imoralidade, impureza, paixões, maus desejos e avareza, que é uma idolatria». Pelo Batismo somos «revestidos do homem novo». Cristo passa a ser o nosso hábito, que nos reveste da vida nova da graça e nos leva a praticar o mandamento do amor.
Encontramos no Evangelho uma proposta original: aproveitar o conhecimento de Jesus para O tentar fazer juiz de partilhas em favor de uma parte. Sabemos que uma herança é para ser dividida entre os irmãos, mas é bem conhecido que demasiadas vezes uma herança divide os irmãos, chegando a extremos de ódio. O amor ao dinheiro acaba por prevalecer sobre o amor aos irmãos. Por isso, Cristo adverte: «Vede bem, guardai-vos de toda a avareza: a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens». Os bens materiais são para ser possuídos na liberdade de quem vive para servir. Importa estar atentos para que não passem a mandar em nós, escravizando-nos pela avareza e ganância.
Cristo conta a história de um homem que se deixou levar pela vertigem da felicidade prometida pela abundância dos bens materiais: «Tens muitos bens em depósito para longos anos. Descansa, come, bebe, regala-te». Este o seu programa de felicidade egoísta, que facilmente se desfaz no nada, em breve tempo: «Insensato, esta noite terás de entregar a tua alma». Todas as formas de egoísmo são uma ilusão de felicidade e um veneno que destrói as boas relações com as pessoas com quem convivemos. Cristo indica a solução: «tornar-se rico aos olhos de Deus». É a riqueza do amor que partilha e serve.
Sem comentários:
Enviar um comentário