Vigário apostólico da Península Arábica questiona quem condena fundamentalismo mas compra petróleo a jihadistas
Fátima, Santarém, 29 ago 2015 (Ecclesia) - O vigário apostólico da Península Arábica, D. Camillo Ballin, disse à Agência ECCLESIA que o autoproclamado ‘Estado Islâmico’ (EI) representa um perigo para a sobrevivência das comunidades cristãs no Médio Oriente.
“É um risco muito forte, porque o Estado Islâmico está a expandir-se e usam os métodos que todos conhecem. Por isso, os cristãos têm medo e fogem, há um risco muito grande de que o Médio Oriente se esvazie de cristãos”, referiu o responsável, em Fátima, durante o encontro de bispos combonianos de todo o mundo, que decorre até domingo.
D. Camillo Ballin, responsável pelas comunidades católicas da Arábia Norte (Barém, Kuwait, Catar, Arábia Saudita), recorda ainda os confrontos entre sunitas e xiitas, dentro das próprias nações islâmicas da região.
O prelado questiona hipocrisia de quem condena o fundamentalismo do EI, “que já tomou mais de 50% do território da Síria e boa parte do Iraque”, mas compra petróleo aos jihadistas.
“‘Business is business’, o dinheiro é dinheiro, e mesmo no caso dos países que são contra [o EI], há empresas que por baixo da mesa têm lucro, porque esse petróleo, dizem-me, é vendido com 80% de desconto”, relata.
Os cristãos da região são “pobres” e estão a ser “privados de tudo”, mas não deixam de ajudar quem vive maiores dificuldades “no Iraque e na Síria”.
“Eles têm noção de quão doloroso é para um cristão ser obrigado a deixar a sua casa de imediato, sob ameaças, sem nada”, acrescenta D. Camillo Ballin.
Este responsável denuncia as “atrocidades” do EI, que tem “crucificado, torturado ou enterrado vivos” muitos cristãos.
“Acredito que quanto mais cresce o Estado Islâmico, mais fraco se torna”, refere, por outro lado.
O vigário apostólico da Península Arábica admite, no entanto, que os jihadistas têm Roma na sua mira e “quando olham para Roma, não é para o Coliseu, é para o Papa, isso é bem claro”.
Para este responsável, a ausência de cristãos no Médio Oriente seria uma perda também para o “mundo islâmico”, porque estas comunidades são um “fator de pacificação”.
A situação é muito variada no Barém, onde há boas relações com os governantes, e a Arábia Saudita, país em que qualquer culto não islâmico é “severamente proibido”, o que dificulta a vida de mais de 1,5 milhões de católicos, limitados à celebração nalgumas embaixadas estrangeiras.
HM/OC
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