Caríssimos diocesanos,
De 30 de novembro a 4 de dezembro reúne-se a nossa assembleia sinodal segundo o Código de Direito Canónico (cân. 460 ss). Como vos tenho dito e escrito, vejo-a como a etapa “canónica” da nossa caminhada sinodal, sendo esta muito mais vasta e englobante do conjunto da diocese, antes, durante e depois.
Tudo começou com a exortação apostólica A alegria do Evangelho (Evangelii Gaudium) do Papa Francisco, de 24 de novembro de 2013, convidando-nos para uma nova etapa evangelizadora e indicando caminhos para o percurso da Igreja nos próximos anos (cf. EG, 1).
O Papa quis também que em cada diocese “amadurecessem” os organismos de participação canonicamente previstos - entre os quais o sínodo diocesano – e outras formas de diálogo pastoral. E que tal acontecesse, não tanto por motivos de “organização eclesial”, mas com “o sonho missionário de chegar a todos” (cf. EG, 31).
Ouvido o Conselho Presbiteral, que se pronunciou unanimemente neste sentido, começou o nosso caminho sinodal, em que participaram milhares de fiéis do Patriarcado, juntando reflexões e ensaiando ações a partir dos cinco capítulos da exortação apostólica, tudo envolvido na oração pessoal e comunitária. Com o que enviaram para a comissão preparatória, elaborou-se o Documento de Trabalho que está na base da próxima assembleia sinodal. Com plena liberdade de ação do Espírito, procuraremos que o caminho sinodal de Lisboa, que envolveu tantos fiéis leigos, consagrados e ordenados, seja tomado no seu conjunto e continue depois, na aplicação concreta dos tópicos e critérios entretanto apurados.
Neste dia em que vos escrevo, celebra-se em toda a Igreja a Memória de Nossa Senhora do Rosário, ocasião propícia para insistir na necessidade de, com Maria, Mãe de Jesus, perseverarmos unidos em oração (cf. Ac 1, 14). Esta atitude “garantiu” a primeira evangelização e garantirá agora a que levarmos por diante.
O próprio Papa Francisco o indica na exortação apostólica, na parte referente a “Maria, a Mãe da evangelização” (cf. 284 ss). Retomo alguns pontos do que nos escreve a propósito:
Maria é indispensável na herança de Jesus. Mais ainda, é com Ela que O podemos contemplar e seguir, com verdade e empenho. Escreve o Papa: «Ao pé da cruz, na hora suprema da nova criação, Cristo conduz-nos a Maria; conduz-nos a ela, porque não quer que caminhemos sem uma mãe: e, nesta imagem materna, o povo lê todos os mistérios do Evangelho» (EG, 285).
Geralmente falando, ninguém conhece tão bem os filhos como as suas mães. Para conhecer Jesus e O testemunhar no mundo é-nos imprescindível aprender com Maria o que nela primeiramente se passou, em relação a Jesus e ao respetivo seguimento. Acertarmos na evangelização a fazer entre nós, só com Maria é possível, em meditação orante.
Da sua parte, o exercício é constante, cumprindo a maternidade eclesial que Jesus lhe confiou. Da nossa parte, a oração seja agora mais insistente, em filial correspondência. Oiçamos o Papa: «Ela é a missionária que se aproxima de nós, para nos acompanhar ao longo da vida, abrindo os corações à fé com o seu afeto materno. Como uma verdadeira mãe, caminha connosco, luta connosco e aproxima-nos incessantemente do amor de Deus» (EG, 286).
Maria ensina-nos a todos o que Ela mesma aprendeu e viveu a respeito do Jesus e do Evangelho. E não há melhor aprendizagem do que a que temos das nossas mães, nem vínculo mais duradouro e profundo para a família inteira. Roguemos então com o Papa: «À Mãe do Evangelho vivo, pedimos que interceda a fim de que este convite para uma nova etapa da evangelização seja acolhido por toda a comunidade eclesial. […] Hoje fixamos nela o olhar, para que nos ajude a anunciar a todos a mensagem de salvação e para que os novos discípulos se tornem comprometidos evangelizadores» (EG, 287).
Maria oferece a quem lho peça o que lhe é tão próprio enquanto mulher e mãe. O Papa define-o como ternura e afeto, sentimentos indispensáveis à evangelização no seu todo: «Há um estilo mariano na atividade evangelizadora da Igreja.
Porque sempre que olhamos para Maria voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto». E, depois de sumariar as atitudes essenciais da Mãe de Jesus, o Papa conclui: «Esta dinâmica de justiça e ternura, de contemplação e de caminho para os outros, faz dela um modelo eclesial para a evangelização. Pedimos-lhe que nos ajude com a sua oração materna, para que a Igreja se torne uma casa para muitos, uma mãe para todos os povos, e torne possível o nascimento de um mundo novo» (EG, 288).
Caríssimos diocesanos do Patriarcado de Lisboa: Reforcemos a todos os níveis – pessoal, familiar e comunitário – a oração pelo Sínodo e os seus frutos. Como indica o Papa Francisco, façamo-lo em chave mariana, para que com Maria aprendamos Cristo e O testemunhemos como agora importa e tanto urge.
Repetindo a oração que temos feito desde o início da nossa caminhada sinodal de Lisboa: «Maria, Mãe da Igreja, ajudai-nos a dizer o nosso “sim”. Dai-nos a audácia de buscar novos caminhos para que chegue a todos o dom da beleza que não se apaga. Virgem da escuta e da contemplação, intercedei pela nossa Igreja de Lisboa, em caminho sinodal, para que nunca se feche nem se detenha na sua paixão por instaurar o Reino. Estrela da nova evangelização, ajudai-nos a resplandecer com o testemunho da comunhão, do serviço, da fé ardente e generosa, da justiça e do amor aos pobres, para que a alegria do Evangelho chegue até aos confins da terra e nenhuma periferia fique privada da sua luz. Mãe do Evangelho vivo, manancial de alegria para os pequeninos, rogai por nós. Ámen.»
Convosco, irmão e amigo,
+ Manuel, Cardeal-Patriarca
Lisboa, 7 de outubro de 2016, Memória de Nossa Senhora do Rosário
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