Por vocação e missão dei por mim, nos meus 25 anos de vida sacerdotal, a trabalhar pastoralmente no âmbito do pensamento e da cultura. Se há lugar em que a Igreja se assemelha a um hospital de campo – para retomar a imagem mais do que oportuna do papa Francisco –, é precisamente este, onde as perguntas são exigentes e contínuas, as procuras de sentido são intensas, por vezes extremas, na sua vulnerabilidade, e a fome de Deus é, sim, latente, mas também se oculta sob uma dor humana nem sempre confessada, um grande vazio, muito sofrimento, em conflito e em solidão no modo de se confrontar com a vida ou com a fé. Por isso, quem trabalha no sector da cultura não pode ser uma simples pessoa de gabinete ou gestor de sacristia. Apesar de trabalhar há muitos anos numa universidade, vejo-me, com efeito, como um padre de estrada, dado que a cultura, na sua fantástica e dramática vitalidade, é isto: é estar no meio da estrada, é o desarmante espaço aberto da vida. A cultura é um extraordinário motor de procura, no qual a complexa ansiedade do viver está sempre presente. Um território que não é fácil, mas é apaixonante. E este campo pastoral ensinou-me o valor da escuta.
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