Reuniu-se à volta de Jesus um grupo de fariseus e escribas: os primeiros são cumpridores escrupulosos da lei e os segundos são aqueles que estudam a lei até ao mais ínfimo detalhe. Estes reparam que os discípulos de Jesus não cumprem todas as leis e comem sem a purificação ritual que estava indicada. De facto, a Lei diz que antes de comer se devem purificar as mãos e não é só por uma questão de higiene, mas também um rito purificatório que recorda que o alimento é uma fonte pura de vida, um dom do amor de Deus. Os ritos, quando são esvaziados do seu significado, correm o risco de se transformar em magia ou mera formalidade. Até com as coisas mais santas isto pode acontecer, se são esvaziadas do seu sentido. A própria Eucaristia pode ser pervertida e celebrada por mero hábito, por uma conveniência minha ou até mesmo por lucro.
Jesus denuncia que uma religiosidade meramente formal, exterior, faz com que a Lei, que em si é boa, degenere em legalismo e seja reduzida a palavras e tradições que, no fim de contas, são simplesmente humanas e acabam por anular a palavra de Deus. Assim, Jesus aproveita a provocação dos escribas e dos fariseus para chamar a multidão e dizer-lhe que não há nada na natureza que nos torne impuros. O mal não está nas coisas! As coisas são boas. O mal pode estar no modo como as utilizamos.
Toda a criação existe como lugar, como casa em que somos todos chamados a viver amando a Deus e ao próximo como a nós mesmos. O mal está no uso que fazemos das coisas, pervertendo-as da sua (e da nossa) finalidade. O mal está quando aquilo que sai do nosso coração não é o amor, mas o egoísmo.
«Ama e faz o que quiseres», diz- -nos Santo Agostinho: o princípio do bem ou do mal não está só na nossa ação, não está no mero cumprimento ou não cumprimento de uma lei, mas no princípio que nos leva a agir. Claro que são necessárias leis que nos ajudem, mas não somos chamados ao mero cumprimento, antes ao Amor. Amando cumprimos a lei, diz S. Paulo. É o amor o cumprimento da lei. Por isso é que, para o cristão, é importante o discernimento, isto é: procurar qual ação me aproxima mais do Senhor para que possamos agir não só em conformidade com a lei, mas semp
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