domingo, 10 de março de 2019

MEDITAÇÃO DIÁRIA Dom, 10 – Domingo I da Quaresma – Ano C

Dt 26, 4-10 / Slm 90 (91), 1-2.10-15 / Rm 10, 8-13 / Lc 4, 1-13

A oferta das primícias, dos primeiros frutos, é muito mais que uma tradição do povo hebreu. É a proclamação da sua fé em Deus Criador e Senhor de tudo. Na celebração litúrgica dos primeiros frutos da terra, que são oferecidos a Deus, fonte de tudo o que vive e respira, o sacerdote não reza um credo de verdades teóricas, mas faz uma síntese da história de salvação realizada por Deus em favor do seu povo.

Ocorre a natural pergunta: que destino se dava às primícias oferecidas no templo? Queimavam-se? Eram dadas aos sacerdotes? Nada disso, pois eram oferecidas aos privilegiados de Deus: aos pobres, aos levitas, aos forasteiros, aos órfãos e às viúvas.

Esta leitura da Palavra de Deus é colocada no início da Quaresma como um desafio à conversão penitencial da partilha, da doação generosa. Só quem se converte ao amor caritativo para com o próximo é que prova ter-se convertido verdadeiramente a Deus. Se alguém se diz amigo de Deus e é inimigo do próximo está a ser mentiroso.

S. Paulo apresenta-nos uma das mais antigas confissões de fé: confessar com a boca que Jesus é o Senhor e acreditar com o coração que Deus O ressuscitou dos mortos. Esta confissão de fé era usada no rito do batismo dos primeiros tempos da Igreja. «Acreditar com o coração» significa com a vida real, onde cada um prova o que pensa e diz com palavras.

No Evangelho encontramos Jesus a ser tentado pelo diabo. Não se trata da descrição de um cronista que narra os pormenores de um acontecimento. É antes uma lição de catequese, a fim de sabermos como vencer as tentações, à imitação do mestre Jesus.

As tentações de Jesus ocorrem no deserto, que tem um forte sentido bíblico: é um lugar de provação, mas também um contexto propício à revelação de Deus. Aí Jesus Se sentiu «cheio do Espírito Santo» e venceu «toda a espécie de tentações».

Nesta narração aparece o drama que Jesus viveu na sua consciência; o combate que teve de travar para ser fiel à vontade do Pai: as tentações do êxito imediato, da glória mundana e do prestígio, do aproveitamento do próprio poder para sua vantagem. Tentações que continuam atuais na Igreja de Cristo, formada por mulheres e homens frágeis, mas nunca abandonados pela graça providencial de Deus.

As tentações de Jesus são-nos apresentadas em três quadros: conversão das pedras em pão; oferta do poder e glória dos reinos da terra; atirar-se do pináculo do Templo para ser sustentado pelos anjos. São uma síntese de todas as tentações, representando o modo errado de nos relacionarmos com as coisas, com as pessoas e com Deus.

O facto de Cristo ter sido tentado, sem viver num plano super-humano, acima de toda a sedução do mal, é um forte exemplo para nós. Ele mesmo nos ensinou a rezar, pedindo assim a Deus: «Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal». Não pedimos para não ser tentados (nisso nos distanciaríamos de Cristo), mas para vencermos as tentações unidos a Ele.

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