Tinham mãos os salteadores, como as têm hoje. Mas não
são mãos de dar, são mãos de roubar bolsas e vidas. Roubaram-lhe tudo o que
levava, que no seu caso seria material. Nos caminhos solitários que tantos
percorrem hoje, os assaltos são permanentes e não roubam apenas coisas. Rouba-se
a transparência dos novos, rouba-se a sabedoria dos velhos; rouba-se o ideal dos
jovens, rouba-se o sustento dos adultos; roubam-se disponibilidades, sonhos e
projetos… Não falo em abstrato. Refiro aspetos precisos, como a escassa educação
para os valores essenciais da verdade, da bondade e da beleza; refiro a pouca
prioridade que se dá à família, como célula base do organismo social, onde se
possa aprender com espaço e tempo o convívio intergeracional, a
complementaridade masculino – feminino, a memória das coisas e a solidariedade
essencial; refiro o pouco respeito pela dignidade da pessoa humana, que não pode
ser lesada pela sobrevalorização da imagem, a exorbitância da moda, a
secundarização dos menos hábeis ou habilitados, ou a banalização da pornografia,
do mau gosto e dos maus consumos. Falo de realidades assim, como podia juntar
tantas outras, que assaltam e roubam as pessoas no que têm e no que são,
sobretudo porque as apanham sós ou solitárias, mesmo que rodeadas por multidões
anónimas.
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