Is 40, 1-5.9-11 / Slm 84 (85), 9-14 / 2 Pedro 3, 8-14 / Mc 1, 1-8
«Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus». Assim começa a mensagem que o profeta Isaías anuncia da parte de Deus. Depois de longas provações por que Israel estava a passar, eis que o Consolador se aproxima. Por isso, Isaías diz: «Terminaram os seus trabalhos e está perdoada a sua culpa».
Israel tinha-se afastado de Deus e perdido a esperança. O povo vivia tempos de desolação, mas o Senhor anuncia a sua vinda e o fim da provação. Para nós, normalmente, consolar significa dizer palavras de alento a alguém que está triste, mas para Deus consolar é bem mais do que só uma carícia. A consolação que vem de Deus é a salvação: Ele consola o triste levantando-o do pó, transformando o lamento em canto de Alegria. Revela-nos Jesus que o Consolador é o Espírito Santo que Ele nos envia e nos liberta de tudo aquilo que nos escraviza, isto é, que nos impede de Amar. Esta é a desolação das desolações: a incapacidade de amar e de se deixar amar.
No Evangelho, vemos que a voz que clama no deserto é João Batista, o Precursor, aquele que prepara o caminho do Senhor. Estas são as primeiras palavras do Evangelho segundo S. Marcos e mostram-nos as condições para acolher o Senhor. A primeira condição é a sede de justiça. Olhando à nossa volta, percebemos que há como que um abismo entre a realidade tal como a vemos e aquilo que achamos que deveria ser. Percebemos que não é isto que Deus quer, e ai de nós se nos acomodamos às injustiças e negamos a sede de justiça que nos permite reconhecer o Senhor. Sabemos que Deus não abandona o mundo, que está presente e atuante e esta sede é para nós uma bússola para O encontrar. A segunda condição é a sede de liberdade: percebemos dentro de nós uma sede de mais, que há coisas que nos aprisionam, nos tiram a liberdade. Até reconhecemos o bem, mas muitas vezes somos incapazes de o seguir; intuímos um caminho de felicidade, mas sentimo-nos impotentes para o seguir. Há uma voz que grita para abrirmos uma «estrada» que nos liberte daquilo que nos escraviza.
João Batista é o homem do «desejo», que espera ardentemente a chegada do «desejado» e nos ensina a canalizar as nossas sedes de «mais», a sede de justiça e a sede de liberdade para reconhecermos na nossa vida a presença do Consolador. Todo o discípulo do Senhor é chamado a cultivar em si este desejo que Deus coloca no nosso coração, tal como fez com o povo de Israel, que é a sede da fraternidade, da liberdade, da coragem para deixar os nossos interesses, por vezes mesquinhos, que nos fecham em nós mesmos, e receber a força de enfrentar o deserto na vida e encarar de frente o desejo de conversão que, por vezes, brota do nosso coração.
Tudo isto será dito por Jesus, o «desejado», o Senhor que está a vir.
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