domingo, 26 de agosto de 2018

Dom, 26 – Domingo XXI do Tempo Comum – Ano B


Na sequência dos domingos anteriores, continuamos a rezar o capítulo 6 do Evangelho de São João. Logo no início deste capítulo, Jesus cria grande espectativa messiânica no milagre da multiplicação dos pães. Logo depois, diz que Ele é o Pão descido do Céu, que a sua carne é verdadeira comida e que o seu sangue é verdadeira bebida. Ainda mais, diz que quem não «mastigar» a sua carne, quem não beber o seu sangue não terá a Vida e que quem comer a sua carne e beber o seu sangue viverá do seu amor pelo Pai e pelos irmãos, que é o Espírito Santo. 


Diante destas palavras, muitos dos seus discípulos ficaram perplexos e muito incomodados: «São palavras insuportáveis!», dizem eles. «Isto escandaliza-vos?», pergunta-lhes Jesus. Na verdade, podemos até estar fascinados pelas suas obras e pelos seus milagres, mas ainda não ter percebido quem é Ele. Podemos até dizer que somos cristãos, mas sem O acolher a Ele tal como é estamos muito longe de o ser verdadeiramente. 

Comer a sua carne, beber o seu sangue torna-nos semelhantes a Ele e somos todos chamados a ser como Ele. Temos sempre, porém, diante de nós duas conceções diametralmente opostas do que significa ser Deus e também ser humano. Muitas vezes, em vez de procurarmos conhecer Deus para depois O seguirmos, projetamos n’Ele os nossos receios, os nosso anseios e os nossos desejos de grandeza, fazendo um deus à nossa imagem. Um deus poderoso e milagreiro que nos protege; um deus que castiga os mal comportados e a nós, que até somos bons, dá um prémio. Um deus que manda, que tem poder, um deus dos trovões! Mas Jesus diz-nos que Deus é partilha, serviço, humildade, numa palavra: Amor. Nós queremos um deus à nossa imagem, uma espécie de super-homem que nos livra dos problemas, mas em vez disso somos salvos por um Deus que Se mete aos nossos pés e que, em vez de nos livrar dos problemas, Se mete a caminho ao nosso lado e nos dá a força para os superarmos. 

Um Deus que por nós Se faz carne pode parecer-nos «pouco útil», mas qual é a «utilidade» que procuramos em Deus? Alguém que nos dê vantagens na vida? Não! O nosso é o Deus do Amor, que Se entrega por nós, que por nós Se faz último e que nos aponta o sentido da vida: o Amor. 

A peregrinação da vida é uma grande oportunidade para encontrar o Amor naqueles que connosco caminham. Os que andam com Jesus percebem isto: «Este não serve para nada. Não nos liberta dos poderosos». Jesus pergunta-lhes: «Quereis ir embora?». «Senhor, Tu tens palavras de vida eterna», responde Pedro em nome de todos. Esta resposta é a resposta da fé. A resposta que poderemos dar pode demorar uma vida inteira, mas é o ponto de chegada da nossa peregrinação. Pedro ainda não percebeu quem é Jesus Cristo, ainda tem uma imagem de Deus que não é a do Deus Amor, o Pai de misericórdia de que Jesus fala; só na Paixão começará a perceber quem é realmente Jesus. A fé, no fim de contas, não é nem irracional nem obscura, mas é verdadeiro conhecimento; não é cega, mas visão real que permite a Pedro e a cada um de nós reconhecer finalmente Jesus no meio da vida. 

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