Eu sou o Pão da vida, diz o Senhor à multidão reunida à sua volta. Esta afirmação de Jesus coloca-nos no núcleo da nossa fé cristã que é a Eucaristia. Quando Jesus afirma que é o Pão da vida está a dizer uma metáfora, isto é, está a dizer alguma coisa que nos leva «para lá». É sempre assim a linguagem metafórica: leva-nos para lá de nós mesmos, até àquela realidade que se quer comunicar. Jesus convida- -nos a compreender «para lá» daquilo que as palavras dizem, convida-nos a sermos místicos, isto é, homens e mulheres capazes de ler os sinais da vida e compreender «para lá» da aparência e ver o que nos está a dizer Deus no concreto desta peregrinação em direção ao Pai que é a nossa vida, com os seus altos e baixos.
Jesus diz-nos que Ele é o Pão da vida. O pão é o símbolo da vida e Ele é a Vida que ama o Pai e os irmãos. Viver não é simplesmente sobreviver, é amar. A nossa vida realiza-se no amor. A nossa vida é constituída por aquelas relações de amor que nos unem uns aos outros. Diz S. João que «quem não ama, permanece na morte» (1 Jo 3, 14b). Mesmo que respire, coma e beba e vá trabalhar todos os dias, quem não ama está morto, porque a Vida é o Amor. Identificando-Se como «Pão», que é simultaneamente fruto da bondade de Deus e do nosso trabalho, como dizemos em cada Eucaristia, Jesus identifica- -Se como sendo o alimento mais básico, mais fundamental e elementar para a nossa vida.
Quanto é para nós difícil perceber estas coisas... O Evangelho deste domingo mostra-nos como a multidão que tinha assistido ao milagre da multiplicação dos pães vai à procura de Jesus não porque quer viver ligada ao Senhor e alimentar-se da sua vida, mas porque procura seguranças materiais. Na verdade, muitos de nós continuamos mais à procura do Senhor porque procuramos seguranças, queremos que Ele nos proteja quando fazemos uma viagem ou pretendemos que nos cure de uma doença, do que à procura de viver como Ele, com Ele e n’Ele. Muitas vezes, desejamos mais os dons de Deus do que a vida do Deus de todos os dons. Somos como galinhas atrás de quem lhes dá o milho que garante esta vida e ignoramos o Pão que nos dá a Vida abundante e eterna, aquela que nos coloca em comunhão com os nossos irmãos e as nossas irmãs.
O pão alimenta a vida, mas não é a vida. A Vida é acolher o mundo como dom de Deus, dom do amor de Deus. É viver por amor as dores, os sofrimentos, as alegrias e tudo de bom que recebemos; é viver a Vida que se dá por amor, vendo em cada homem e em cada mulher um irmão e uma irmã.
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