O Evangelho deste domingo fala-nos da Eucaristia, explicitando o seu significado. Esta não é um sinal milagroso, alguma coisa externa a nós à qual «assistimos», mas é obra de Deus, dom gratuito e universal do seu Amor que pede a nossa resposta de fé, na qual somos «um só corpo e um só espírito».
Não é fácil compreender isto. Não é fácil para nós, não era fácil para os judeus contemporâneos de Jesus: Ele assume-Se como sendo o «Pão» descido do Céu. «Mas não é este o filho do José, cá da terra?» – perguntavam-se as pessoas. «Ou bem que é o filho do José, ou bem que é o Pão descido do Céu». Parecem ser duas coisas incompatíveis.
Jesus vai mais longe e compara-Se ao Maná descido do céu que alimentou o povo na travessia do deserto. Para nós pode soar simplesmente a metáfora engraçada, mas para um judeu é uma blasfémia, porque o Maná era o pão que Deus mandou do céu. Para quem escutava Jesus, estas são palavras muito duras e muito difíceis de aceitar.
Pouco antes desta passagem, os judeus perguntavam a Jesus quem era Ele. Agora está a apresentar-Se, a dizer quem é. A sua identidade é-Lhe dada pela sua relação com o Pai, pela sua proximidade a Deus: o facto de ser Filho permite-Lhe chamar a Deus seu Pai. Mais: desafia cada um de nós a identificarmo-nos com Ele, a fazer o que Ele faz, a viver não só como Ele vive, cumprindo os seus mandamentos, mas a viver a sua própria vida.
Numa linguagem crua, em que se fala de «carne» e de «sangue», de «comer» e de «mastigar», Jesus identifica-Se como sendo Pão, o Pão que desce dos Céus. Todo aquele que o comer não tem simplesmente «vida», mas «a Vida», a mesma vida que habita o Filho. Claro que isto é mesmo muito difícil de acompanhar, por isso a desconfiança natural de quem O escuta: como pode um homem ou uma mulher viver de Deus? É este o problema.
A Eucaristia dá-nos a Vida do Filho, isto é, dá-nos a plenitude do Espírito Santo que nos habita para que a Vida Eterna, à qual somos todos continuamente chamados, possa começar já, aqui e agora, no concreto da nossa vida.
É Jesus o Pão desta Vida. Ora o pão comunica vida; o alimento mantém-nos vivos e com força. Inicialmente, a vida é mantida pelo cordão umbilical, depois passamos a viver do leite e, mais tarde, passamos a mastigar o pão. É isto que Jesus nos está a dizer: o que nos mantém na Vida verdadeira, na Vida à qual somos chamados é Jesus, é comer a sua carne, beber o seu sangue. É Ele quem nos mantém na vida. A carne de Jesus é a visibilidade concreta de Deus. E como vive Deus?
Como vive alguém que é Amor? Vive amando! Jesus vive amando o Pai e os irmãos. É isto que Jesus nos quer comunicar dando-nos a sua carne. Esta é a essência do Filho, é a essência de sermos filhos.
O que significa para nós celebrarmos juntos a Eucaristia? O que significa, no concreto da vida de cada um de nós, mastigar, assimilar o Pão descido do Céu? A nossa fé não é uma coisa vaga, teórica, mas assimilar a carne, a humanidade e a divindade de Jesus até termos uma humanidade semelhante à d’Ele. No fim de contas, não somos nós que assimilamos a Eucaristia, mas somos assimilados por ela até sermos transformados naquilo que o Filho é: Amor.
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