domingo, 27 de janeiro de 2019

MEDITAÇÃO DIÁRIA Dom, 27 – Domingo III do Tempo Comum – Ano C

Ne 8, 2-6.8-10 / Slm 18 B (19), 8-10. 15 / 1 Cor 12, 12-30 / Lc 1, 1-4; 4, 14-21

A primeira leitura, do livro de Neemias, relata a tentativa de reorganização social e religiosa do povo de Israel, perante um clima de anarquia, passados já cerca de cem anos do regresso do exílio na Babilónia. O rei da Pérsia, Artaxerxes, de quem dependia a Palestina, envia a Jerusalém um sacerdote e escriba perito na Lei do Senhor, Esdras. Este deu ao povo como que um curso intensivo, apresentando de uma forma acessível o Livro da Lei: "diante de homens e mulheres e todos eram capazes de compreender".

Aqui encontramos um belo exemplo de tratar bem a Palavra de Deus, não improvisando, mas preparando tudo adequadamente, desde o lugar até ao modo como Esdras se dirigia ao povo, de forma compreensível, criando aceitação da palavra proclamada, que chegava mesmo à comoção das lágrimas.

Quando numa liturgia escutamos a Palavra de Deus, devemos ter a consciência de que, mais do que a leitura de um livro sagrado, estamos a ouvir a Deus que hoje nos fala.

S. Paulo, escrevendo aos cristãos de Corinto, que se debatiam com o problema de rivalidades a propósito dos dons e carismas de cada um, usa a imagem do corpo humano. A diversidade dos membros e órgãos é para aceitar na complementaridade, sem entrar em despiques, cada um autoelogiando-se e menosprezando os outros.

Numa comunidade todos somos importantes, de modo diverso cooperando para a perfeição do corpo comunitário. O bem ou o mal de um é partilhado por todos, como acentua S. Paulo: "Se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele; se um membro é honrado, todos os membros se alegram com ele". É com estes sentimentos de estreita solidariedade que assim vivo na família, na paróquia, na comunidade, no grupo de trabalho? S. Lucas, no prólogo do seu Evangelho, expõe os critérios que segue na sua redação, esclarecendo que não pertence ao grupo dos que conheceram pessoalmente Jesus. Escreve pelo ano 80 depois de Cristo, quando a Boa Nova de Jesus já tinha sido anunciada largamente no Império Romano. Ele firma a autoridade do seu testemunho no contacto com os apóstolos e discípulos que conheceram Jesus, "depois de ter investigado cuidadosamente tudo desde as origens". S. Lucas dedica a sua obra a Teófilo, "para que tenhas conhecimento seguro do que te foi ensinado". É que, como diz o ditado, as palavras voam mas os escritos permanecem. Era costume dos autores clássicos dedicar um livro a quem o patrocinava, dado que os pergaminhos eram caros e tudo o que envolvia a feitura de uma obra era custoso: peles, trabalho dos calígrafos...

A cena descrita passa-se na sinagoga de Nazaré, a terra onde Jesus passou a maior parte da sua vida, precisamente ao sábado. Coube-Lhe fazer a leitura do profeta Isaías, em que o Messias é anunciado: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres. Ele me enviou a proclamar a redenção aos cativos... e a proclamar o ano da graça do Senhor". Jesus, depois de Se sentar, na atitude do mestre que ensina a partir da sua cátedra, não faz comentários, mas anuncia que a profecia acabava de se cumprir.

Cabe-nos acolher a presença de Jesus na sua Igreja que, pela Palavra e pela Eucaristia, nos quer libertar de todas as cegueiras e prisões para vivermos na graça do Senhor, em clima jubilar.

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