quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Paróquia das sete chagas

Diante de comunidades paroquiais das periferias do mundo, que vivem o essencial, ou seja, a Palavra, os sacramentos, a caridade, tornam-se «ridículas certas contendas que, por vezes, entre nós, sorvem energias e paixões» relativamente à gestão de espaços e estruturas, divisão de competências, mudança de horários de missas, organização de iniciativas. Mas a busca de protagonismo, mais do que do serviço, está longe de ser o único mal das paróquias.

1. Maledicência afiada
Ditada por invejas, ciúmes, desejo de se sobressair, ao ponto de se chegar à calúnia. «A Palavra de Deus adverte para a utilização bélica da língua», e a Eucaristia é «ação de graças», e «nunca maldição contra alguém». «Como se pode participar na missa e depois encher a boca de maledicências e falatório?». Por que não, antes, praticar «o método da correção fraterna»?

2. Lamentação crónica
«Consiste na tendência a falar sempre daquilo que não funciona, daquilo que os outros deviam fazer e não fazem, de tudo aquilo que falta e devia estar presente». O cristão é chamado ao louvor, e não ao lamento «crónico». Além disso, «uma comunidade lamentosa, por muito organizada que seja, não atrai ninguém, e, aliás, afasta».

3. Paralisia paroquial
Manifesta-se quando o tradicionalismo (o «sempre se fez assim») se torna mais importante do que a tradição. Também os métodos já experimentados e as experiências pastorais testadas devem ser submetidas a verificação, porque, «por vezes, a manutenção de formas do passado, em vez de respeitar a inspiração originária, trai-a».

4. Perfeccionismo paranoico
Há quem queira a comunidade perfeita. «Na celebração eucarística está presente a comunidade tal como é, não a comunidade perfeita … as comunidades cristãs são atravessadas por defeitos». O remédio? Ativar a misericórdia, redescobrir a grandeza do perdão, na consciência de que «o perdão não se confeciona na farmácia do coração, mas aprende-se de Deus».

5. Calculismo comunitário
Trata-se da avaliação da vida paroquial apenas na base da «quantidade»: número de pessoas, atividades realizadas, dinheiro ganho… «Semear é mais importante do que recolher». Por isso, é preciso «superar a ânsia dos números: a expressão da amargura pelo facto de se ser poucos torna-se muitas vezes um incentivo para esses mesmos poucos se irem embora».

6. Ativismo ansiogénico
Vivemos num contexto em que se respira «a tensão para as prestações», com o resultado de a atividade «aumentar a ânsia, e a ânsia aumentar a atividade». Um círculo vicioso que faz esquecer a ação benéfica da Eucaristia, que «é pura gratuidade, celebração, alegria de estar juntos, contemplação… não produz mais ânsia». Jesus «censura não o serviço, mas a ânsia de Marta».

7. Miopia pastoral
«Patologia ocular que permite apontar o foco para o que está próximo, mas torna desfocada a vista de pessoas e coisas afastadas.» Alguns cristãos consideram que algumas mudanças são acertadas, mas «opõem-se à sua aplicação para eles próprios, enquanto requerem um sacrifício». «A paróquia peregrina é o contrário da paróquia “NIMBY” [acrónimo inglês para “Not im my back yard”], ou seja, põe-se a caminho com coragem e projeção, em vez de defender o seu próprio átrio com medo e espírito conservador.»

Bruno Scapin
A partir de carta pastoral de D. Erio Castellucci, bispo de Modena-Nonantola (Itália), 14.09.2017
In Settimana News
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: unkreatives/Bigstock.com
Publicado em 03.08.2020

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