1 Reis 17, 10-16 / Slm 145 (146), 7-10 / Hebr 9, 24-28 / Mc 12, 38-44
Na vida, que mestre escolhemos seguir? Podemos estar mais ou menos conscientes disso, mas todos nós seguimos mestres ou, se preferirem, ideais de vida. Para todos nós existe, com certeza, alguém para quem olhamos com um respeito especial, reconhecendo a sua autoridade.
O Evangelho deste Domingo apresenta-nos dois tipos possíveis de mestres que podemos escolher seguir na vida: um representado pelos escribas e outro pela viúva pobre. Os escribas seguem, na verdade, o culto da própria imagem. Adoram ser reconhecidos como homens de bem e cumpridores zelosos da lei de Deus. Amam-se a si mesmos e acabam por subverter tudo ao culto de si mesmos. Como são ricos, dão daquilo que lhes sobra e fazem grandes ofertas ao Templo, sempre diante de todos, para serem reconhecidos e louvados. Usam o Senhor para aparecer: são imagem de um pecado que a todos pode tentar: o pecado do protagonismo, o pecado de querermos ser a estrela, o pecado de meter o próprio «eu» no lugar de Deus. O mais grave é que acabamos por adorar a nossa própria vontade, mascarando-a de «vontade de Deus», deixamo-nos possuir pelo orgulho e acabamos até por nos considerar bons porque «até somos de Cristo».
Por outro lado, o Evangelho apresenta-nos a Viúva Pobre, que, «na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver». No original grego vem escrito que ela oferece «toda a sua vida inteira». Esta mulher, sozinha, pobre, humilde e discreta oferece toda a sua vida. Ela é verdadeiramente como Jesus que Se oferece totalmente. Ele que, sendo Deus, faz-Se um de nós, abdica da sua condição divina e faz-Se o último de todos nós. Sendo Deus, faz-Se servo de todos por amor. Esta mulher é habitada pelo mesmo Espírito de Jesus e nela podemos ver o Senhor. Através dela, é o mesmo Espírito Santo que fala; das suas ações, fica-nos o perfume de Jesus.
Ela não faz discursos, não se irrita se alguém não cumpre a lei, não se ofende se não reparam na sua oferta: pelo contrário, está (muito justamente) convencida que a sua oferta é insignificante. Sabe que, diante do Amor de Deus, a sua oferta é muito pequenina, mas sabe também que de Deus Lhe chegam todos os bens e que ela própria vem de Deus e a Deus regressa. Está consciente de que só n’Ele está a certeza da Vida e de que tudo o que se oferece a Deus regressa purificado e transformado pelo Amor. Por isso, a ela, que dá tudo, tudo lhe será dado; a ela, que oferece a sua vida, lhe será dada a Vida.
Os escribas, ricos e convencidos da própria justiça, dão do que lhes sobra. Têm a sua segurança nos bens que possuem. Convencidos que são bons, exigem ser tratados com respeito. Do alto do seu orgulho, querem os primeiros lugares nos banquetes, querem o reconhecimento pelo bem que fazem. Como estão convencidos que se bastam a si mesmos e acham que não precisam de ninguém, dão a Deus só aquilo que lhes sobra. Pode até ser muito dinheiro, mas é o que lhes sobra. Não oferecem vida, só dinheiro. Recebem a recompensa do dinheiro sendo reconhecidos nas praças públicas e tendo os primeiros lugares nos banquetes.
Nestes dois exemplos, o Senhor bem nos diz que temos de fugir do exemplo dos escribas. Estes são os falsos mestres da aparência. Somos convidados a olhar para esta viúva pobre que, na verdade, até preferíamos ignorar, mas é o exemplo do verdadeiro discípulo. Temos de escolher qual mestre seguir. Temos de escolher o que queremos dar ao Senhor. Ele desafia-nos a amá-Lo, isto é, a entregar-Lhe a nossa vida, na certeza de que tudo o que Lhe entregamos nos será devolvido purificado pelo Amor.
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