Interrogamo-nos sobre o poder da imagem – ou da
obra de arte. Desde o título ao gesto repetido, percebemos a centralidade do
apagamento progressivo. Uma espécie de esvaziamento essencial, uma kenosis. A
sua obra não ilumina o mundo com luz ilusória e presa às aparências. Coloca a
obscuridade, que é o fundamento do mundo, diante dos nossos olhos. Esta enorme
escuridão que a obra de arte nos abre, atira o homem para o exílio, para um
lugar inóspito, inabitável, inseguro. Deixa-o no deserto, sem ter onde inclinar
a cabeça e descansar. A subversão iconoclasta, a afirmação da necessidade
permanente de reforma e combater ilusões, é motor de novos princípios. Uma
permanente destruição dos ídolos. É assim na arte, é assim na experiência
antropológica e religiosa: uma purificação que permita novos começos. Uma
austera passagem pela noite, o encontro com o pó e as cinzas.
Bento
XVI desbravou «novas dimensões de diálogo estético e ético» e acentuou
importância da arte na relação com DeusO
escritor e professor universitário Mário Avelar considera que os caminhos
abertos por Bento XVI «desbravaram novas dimensões de diálogo estético e, ético,
e, também, de entendimento de quão relevante pode ser, hoje em dia, a arte na
relação com Deus». A «abertura à alteridade significou uma disponibilidade para
entender e acolher os discursos estéticos que têm emergido noutros horizontes
culturais, ideológicos mesmo, e de neles identificar inquietações e sintomas que
são passíveis de funcionar como, ainda que ténues e pouco perceptíveis, pontes
de diálogo e compreensão mútua». Para Mário Avelar o percurso do papa ajuda a
compreender que «a experiência contemplativa e meditativa do silêncio perante o
inesperado» e o transcendente «pode constituir uma parte do processo de
aprendizagem e da própria fruição estética».
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