A passagem do Evangelho para este domingo mostra-nos como Cristo constata que os seus discípulos, aqueles que são os seus amigos mais próximos, ainda não compreendem quem Ele é realmente. Até no círculo mais estreito dos seus amigos, entre aqueles que são realmente íntimos, há um modo de pensar que impede os discípulos de compreenderem quem é o Senhor. Ainda têm uma mentalidade meramente religiosa, que espera alguma vantagem por ser de Cristo. Jesus não é o Messias dos desejos deles, mas é o cumprimento da promessa de Deus.
Estamos depois do terceiro anúncio da Paixão. Poderíamos pensar que os discípulos já tivessem compreendido o que significa para Jesus ser o Messias, mas Tiago e João continuam a comportar-se como se Jesus não tivesse dito nada. Jesus anuncia a Paixão e eles estão preocupados com lugares de poder e de honra. Tiago e João, em vez de escutarem o Senhor e procurarem seguir a sua vontade, querem que seja Ele quem os escuta e que seja Ele a fazer-lhes as vontades. Esta é a inversão total da relação de fé, mas não será exatamente isto que tantas vezes acontece na nossa vida, no modo como nos relacionamos com Deus?
Todos nós somos seres de desejo insaciável. Falta-nos sempre alguma coisa e queremos ir sempre mais além. Jesus quer educar este nosso desejo para que o possamos canalizar na busca da sua vontade, isto é, para que possamos pedir aquilo que Ele nos quer dar.
Ao longo do Evangelho, Jesus quer que compreendamos que somos todos cegos e que Ele é o médico que vem para nos curar. Ele espera só que O deixemos curar--nos daquilo que nos impede de O ver. Ser discípulo de Cristo é passar do modo como Tiago e João ainda se relacionam com o Senhor, pedindo-Lhe «favores», para chegarmos à fé do cego de Jericó que, sabendo-se diante de Cristo, grita: «Senhor, Filho de David, tem piedade de mim». A este, Jesus pergunta-lhe o que quer que Ele lhe faça. O cego, sabendo que tem necessidade de ver a verdade, suplica: «Mestre, que eu veja».
Esta é a passagem que somos todos convidados a fazer ao longo da nossa vida: perceber que aquilo que nos salva não é que o Senhor nos faça as vontades, que nos cure desta ou daquela doença, mas antes seguir a sua vontade, que é o amor.
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