Na semana passada, o Evangelho falava-nos de Tiago e de João e de como eles ainda não tinham percebido quase nada daquilo que o Senhor lhes tinha ensinado. Jesus estava a dizer-lhes que tinha de ir para Jerusalém e morrer; e eles, como se não O tivessem escutado, discutiam quem entre eles era o mais importante, preocupados com os lugares mais importantes... cegos diante daquilo que Jesus lhes tinha estado a dizer.
Os milagres que Jesus faz, embora nós os achemos sempre muito interessantes, na verdade não são assim tão importantes para Jesus. Estes são sinais que indicam outra coisa: indicam o Amor de Deus por nós. As curas dos que sofrem um mal físico são para libertar, para dar a Vida Nova. A sogra de Pedro, por exemplo, tinha uma febre que a impedia de servir. Jesus cura-a dos impedimentos, isto é, daquilo que a impedia de sair de si mesma e servir. O sinal de que ficou curada? Começou a servir.
«Que queres que faça por ti?» – pergunta Jesus ao cego. É a mesma pergunta que neste momento do Evangelho faz a cada um de nós que, tal como o cego, estamos sentados fora da estrada e somos convidados a dar a mesma resposta: «que eu veja». É este o objetivo da catequese de Jesus aos seus discípulos (e de S. Marcos ao leitor do Evangelho): levar-nos ao ponto onde se cumpre o último dos milagres, aquele definitivo – a cura da cegueira.
Este cego funciona para nós como um espelho que nos faz ver aquilo que somos. Do cego Bartimeu conhecemos três características: é cego, está sentado, está fora do caminho. Do Evangelho sabemos que é Jesus o caminho e este homem, porque não pode ver, está sentado fora. Em termos espirituais, a cegueira é a incapacidade de ver para além de si mesmo. Significa ficar fechado nas próprias necessidades e incapaz de se meter a caminho com Jesus que o chama. A verdadeira cegueira, aquela que realmente mata, é o egoísmo de quem está fechado dentro de si mesmo e não vê nada para além dos seus desejos.
Como podemos ser curados da cegueira? Em primeiro lugar, reconhecer que não vemos os outros como são realmente, mas que os nossos medos e desconfianças nos cegam e nos impedem de os ver com o olhar do amor. A cura está na confiança. Podemos ter confiança quando temos medo de uma pessoa? Não. O egoísta não pode confiar. Só o amor nos faz confiar uns nos outros. O nosso verdadeiro vir à luz dá-se quando nos sentimos amados; então existimos como pessoas, então podemos ver os outros, olhar para fora de nós mesmos.
O milagre que hoje nos é apresentado é aquele que os discípulos verão no fim do Evangelho, quando perceberão que Deus é amor. É percebendo este amor que podemos nascer como pessoas livres e podemos começar a ver a realidade com olhos novos. Nós somos cegos porque não conhecemos o amor e estamos impedidos de reconhecer irmãos e irmãs à nossa volta.
Para Bartimeu, filho de Timeu, o encontro com Jesus dá-se porque se põe a gritar. Ele não espera o momento ideal para encontrar o Senhor, mas mal se apercebe de que o Senhor está próximo, grita, suplica que Ele Se aproxime. Bartimeu tem tanta confiança em Jesus que O chama pelo nome. É o único, em todo o Evangelho, que tem a coragem de dizer «Jesus».
Tenhamos todos a coragem de assumir que temos cegueiras que nos impedem de amar e que não nos podemos curar a nós mesmos, mas que só Jesus nos pode salvar. «Jesus, Filho de David, tem misericórdia de mim»!
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