Eduardo
Lourenço: Concílio Vaticano II fez Igreja «reatar-se com o mundo»
Sou
natural de uma província das mais arcaicas do nosso país, pertencente a uma
família católica, educado catolicamente, e essa educação em relação a mim
próprio é de caráter indelével. Por mais que eu faça, por mais heterodoxo que eu
seja (e não o faço para me distinguir do comum dos mortais), estou inscrito em
algo que é anterior a qualquer opção de ordem mais refletida, aceite, uma opção
– escolha, já com caráter mais sério e mais profundo, uma espécie de conversão.
Ora eu não preciso de ser convertido, porque nasci cristão, fui batizado (…).
São os homens que têm de invocar Deus e de se lhe dirigir na sua própria língua,
na sua própria cultura. E essa foi certamente uma das coisas mais importantes
que deixou o Vaticano II.
O Estado não é
pessoa de bem
Hoje estamos a amargar e muito uma tristeza de vida em que
alguns direitos fundamentais, sobretudo os direitos sociais, se estão afirmados
em boa teoria, na prática são desrespeitados e incumpridos. Dá pena que a
prática da política não se prestigie a nível de todos os membros da sociedade –
quem quiser manter as mãos limpas é porque não tem mãos -, com especiais
responsabilidades para a classe governante, a nível dos órgãos de soberania,
para os partidos políticos, indispensáveis para a consolidação da democracia, e
para a opinião pública e publicada. Cito duas questões graves: perdemos a
dignidade e o valor do trabalho, negando-o aos desempregados em números
assustadores; deixamos de ser refratários aos impostos, mas não terá valido a
pena se, agora, impõem a diminuição das contrapartidas das reformas a que os
contribuintes cumpridores têm direito.
Sem comentários:
Enviar um comentário