«[Jesus] estava admirado com a falta de fé daquela gente». Assim termina o Evangelho deste domingo, com esta constatação da falta de fé dos habitantes da terra de Jesus. «Como é possível que Deus nos fale através deste homem?», perguntavam-se os seus conterrâneos. «Quem acha Ele que é para estar aqui a querer ensinar-nos?», diziam aqueles que O conheciam.
Às vezes pensamos: «que sorte tiveram as pessoas que conheceram Jesus de Nazaré. Se também eu O tivesse conhecido teria mais fé». Nada de mais falso! Os seus conterrâneos rejeitaram-No precisamente porque achavam que O conheciam. Como é para nós fácil fazer juízos sobre os outros com base naquilo que pensamos conhecer acerca deles. Foram os preconceitos que impediram estas pessoas de O reconhecerem. Foram os preconceitos que impediram que nelas a fé crescesse. Acham que sabem tudo sobre Jesus, mas o conhecimento segundo a carne não nos leva a lado nenhum. Podemos até saber muitas coisas acerca de alguém, podem até ser objetivamente verdadeiras e, mesmo assim, não conhecemos a pessoa. Para a conhecermos realmente precisamos de a ver para lá daquilo que os nossos olhos e os nossos ouvidos nos revelam. É imprescindível reconhecê-lo no Espírito, que é Amor, para podermos ver o outro tal como é verdadeiramente. Não há nada de mais mentiroso do que dizer de alguém: «Este é assim, já o conheço. Não se pode confiar». Quando assim pensamos, verifica-se que ainda não conseguimos ver nem os outros nem nós próprios para além do olhar. Só com o Amor se vê a verdade, porque Deus é amor.
Como é difícil aceitar que o nosso Deus Se manifeste através da banalidade de uma pessoa comum, um filho de um carpinteiro... Com Jesus, somos colocados diante do escândalo de Deus que Se faz carne da nossa carne, que Se faz verdadeiramente um de nós, assumindo a nossa natureza e não escolhendo para Si nenhum privilégio material. Ficamos realmente muito felizes por sabermos que Deus nos chama a sermos cada vez mais como Ele, mas custa-nos aceitar um Deus que partilha a nossa realidade, a nossa banalidade quotidiana.
A fé não é simplesmente aceitar que Jesus é Deus (o Deus que pensamos nós e depois projetamos n’Ele), mas antes aceitar, acreditar, confiar que Deus é este homem Jesus. O Deus omnipotente faz-Se um de nós na impotência de um amor feito carne, frágil, crucificado, quotidianamente banal, fiel e «ferial». Jesus é sinal de contradição, o filho do carpinteiro que acabará derrotado, preso numa cruz, é sinal do poder e da sabedoria de Deus.
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