terça-feira, 12 de maio de 2020

O Papa Francisco e o testemunho cristão em tempos de pandemia

HANDOUT/AFP/East News
Francisco Borba Ribeiro Neto | Maio 10, 2020
O mais impactante em Francisco é sua profunda empatia, que gera nas pessoas uma percepção de estarem sendo amadas por ele

Um dos grandes e inesperados dons desse período de pandemia é a abundância de oportunidades de conversão e testemunhos. Essa é uma riqueza particular desse momento histórico, pois o cristianismo se difunde e se mantem no mundo por obra da Graça, mas com a colaboração humana.
A força dessa colaboração está justamente no testemunho, ainda que não bastem apenas boas ações e exemplos virtuosos, é necessário que exista o anúncio da Fonte de onde nascem essas obras e essas virtudes, para que o testemunho não seja confundido com boas intenções ou virtuosimos meramente humanos.

Nesse tempo, felizmente, exemplos de solidariedade e até de heroismo no serviço ao irmão acontecem não só entre os cristãos. Crises e catástrofes tendem a fazer aparecer um espírito de fraternidade e doação que é inerente ao ser humano, feito à imagem de Deus, mas que costuma ficar submerso nas preocupações e nos interesses do cotidiano. Esse espírito é uma das mais evidentes “sementes do Verbo”, da qual falam vários documentos da Igreja. Mas então, podemos nos perguntar, o que caracterizaria o testemunho cristão nesse tempo? É bom lembrar que essa questão não deve nascer de uma posição farisaica, de querer descobrir “o que nos faz melhores do que os outros”, mas de um desejo sincero de aderir de forma mais pura e integral a Cristo.

O exemplo de Francisco

Com o coronavirus, o Papa Francisco vem se tornando uma referência cada vez maior. Ele é, sem dúvida, um dos primeiros e mais evidentes exemplos de testemunho cristão para o qual devemos olhar nesse momento. Por que ele atrai tanto as pessoas para si? Uma primeira resposta, verdadeira sem dúvida, é por sua humildade e sua solidariedade com os mais pobres e vulneráveis. Mas, se formos analisar com mais cuidado, veremos que essa é apenas a “ponta do iceberg”. Existe muito mais em seu testemunho. O mais impactante em Francisco é sua profunda empatia, que gera nas pessoas uma percepção de estarem sendo amadas por ele. Diferentemente da maioria dos líderes internacionais, ele demonstra estar realmente interessado no bem de cada um. Suas preocupações não nascem de um cálculo político ou de um poder destinado a sobrepujar os adversários – como frequentemente vemos em chefes de Estado e gurus da moda. Daí vem sua credibilidade e sua força.

Sendo assim, Francisco revela algo sobre nós mesmos e sobre Deus. Todos desejamos ser amados de modo particular, sermos realmente importantes e insubstituíveis para alguém, Deus nos fez com esse anseio porque Ele pode satisfazê-lo. Só podemos nos entregar integralmente a esse desejo de sermos amados quando encontramos Aquele que nos ama. O Papa nos testemunha que esse anseio profundo não precisa ficar escondido em nosso coração ou confinado à esfera romântica, mas pode ser o princípio que ordena nossas relações com o mundo, desde a vida na família até o aquecimento global… Não por nosso mérito, mas porque Deus existe e seu amor é real. A experiência de ser amado aguça o desejo de amar, a dor por aqueles que sofrem e o compromisso solidário. Esse é o grande e fundamental testemunho de Francisco… Essa é a experiência que cada um de nós é chamado a viver e testemunhar no mundo, mais ainda nesse período de pandemia.

A esperança que vem do Amor

Com o amor, vêm a confiança, a fé e a esperança. O cristão não tem esperança por uma ilusória força do pensamento positivo, mas pela confiança no poder de um amor que já foi experimentado, mesmo que de forma tímida e inicial. Aqueles que contemplaram um ancião solitário, numa tarde chuvosa, dar a benção Urbi et orbi a um mundo outrora triunfante, mas que agora se encolhe, doente, solitário e triste, perceberam a força desse amor – e tiveram mais esperança.
Num dos últimos parágrafos da Laudato si’, o Papa escreve: “Juntamente com todas as criaturas, caminhamos nesta terra à procura de Deus […] Caminhemos cantando; que as nossas lutas e a nossa preocupação por este planeta não nos tirem a alegria da esperança. Deus, que nos chama a uma generosa entrega e a oferecer-Lhe tudo, também nos dá as forças e a luz de que necessitamos para prosseguir. No coração deste mundo, permanece presente o Senhor da vida que tanto nos ama” (LS 244-245).

Esse é o testemunho que nós e o mundo precisamos, para superar as adversidades dessa pandemia.

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