Ultrapassámos por certo o ponto crítico da vida
exterior (consumos, mercadorias, técnica), e assim parece-nos normal a grande
carestia e incapacidade de interioridade, de meditação, de oração em que
gradualmente precipitámos. A mesma sorte coube à imunidade. A boa conquista
moderna de espaços e momentos de vida privada imune de poderosos e patrões,
transformou-se numa “cultura da imunidade” na qual já não se abraça, nem sequer
se toca, ninguém, cultura que está a fazer murchar tudo e todos; e assim uma
maré cheia de solidão está inundando cidades e vidas. Habituamo-nos a sofrer
sozinhos, a morrer sós, a crescer sozinhos em quartos fechados, vazios de
pessoas amigas; mas cheias de demónios que nos roubam os filhos. Falar destes
grandes temas civis é um primeiro passo decisivo para tomar deles consciência e
para não ultrapassar outros pontos críticos que surgem no horizonte. Para nos
determos ou mesmo voltar atrás: em alguns raros mas luminosos casos os povos
foram capazes de fazê-lo.
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